Jornalismo de Dados: uma nova face no mercado de trabalho do jornalista

Desde a prensa de Gutenberg à internet, o jornalismo sempre teve que se reinventar conforme os avanços nos meios de comunicação para continuar informando da melhor forma possível. Mas, de todos, a Internet tem desempenhado um papel de grande importância para o exercício profissional dos jornalistas. Isso porque ela está em todos os lugares, não apenas restrita ao computador.

Assim, atualmente, por sua facilidade de acesso, o fluxo de informação cresceu, tornou-se mais rápido, renovou as atividades jornalísticas e as dinâmicas que antes eram desempenhadas pelos meios impressos (jornais e revistas), rádio e a televisão.

Aqui iremos falar sobre Jornalismo de Dados, uma área descoberta recentemente que tem crescido cada vez mais e oferece novas possibilidades de narrativas dentro deste vasto mar de informações.

Antes de tudo…. O que são Dados?

Você sabia que podemos dizer que tudo ao nosso redor são Dados? Pois bem, sim… É possível dizer, basta apenas darmos uma atribuição para eles. Um exemplo prático disso é pegar um conjunto diversificado de canetas e categorizá-las. Daí, cada uma possuirá atribuições diferentes, como cor, tamanho, espessura etc., ou seja, um dado diferente em cada categoria.

Okay! Mas o que isso tem a ver com a Internet? Como se aplica? Eu tô no meio disso?

Quando por exemplo, você se registra em uma rede social ou busca algo no navegador, faz compras online, escreve um texto, tudo isso geram Dados. Eles partem tanto de nós, usuários comuns, como dos sites, blogs, portais, empresas e serviços que acessamos; o que resulta numa quantidade cada dia maior de dados num ritmo muito acelerado.

Para se ter uma ideia, segundo o levantamento da Cisco Systems, em 2016 estimou-se que o tráfego de Dados ultrapassou o Zettabyte (um sextilhão de bytes) e em 2018 calculou-se que essa estimativa chegaria a 19,5 ZB em 2021. Esse grande volume de dados somado a velocidade que eles circulam e a sua variedade é o que chamamos de Big Data.

Extração de informação: o jornalismo na trilha dos dados

O jornalismo encontrou no Big Data uma nova possibilidade de criação de narrativas. Os dados brutos espalhados pela internet poderiam se tornar fonte de informação, mas para isso era necessário todo um processo para lapidá-los até se tornarem compreensíveis ao público. Essa nova realidade permitiu que o jornalista entrasse em uma nova trilha, de onde surgiu mais uma área de trabalho, o Jornalismo de Dados.

O profissional desse campo lida com três etapas importantes para o desenvolvimento do trabalho: a busca; análises e a difusão do conteúdo. Vamos entender um pouco sobre cada um?

Busca - Caminhando pelo garimpo: Nessa etapa o jornalista vai ‘caçar’ os seus dados. Dentro do processo pode estar com uma pauta definida ou não, de qualquer forma é o primeiro passo para poder refletir sobre o conteúdo que deseja trabalhar. Parte dos dados podem ser encontrados por meio de técnicas de comandos no Google, visitas em sites e serviços com bancos de dados na Internet, Lei de Acesso Informação (LAI) e até mesmo por programação.

Análise - Encontrei uma rocha brilhante: Nesse momento é que se começa a dar forma para a pauta. Depois da aquisição dos dados, o jornalista precisa entendê-los, sendo uma tarefa que exige cautela. O profissional pode se deparar com cálculos que os levam a uma história, assim como encontrar padrões dentro da pesquisa. Nessa etapa é importante ficar atento se realmente as análises estão corretas, por isso é importante entrar em contato com fonte ou profissionais que tenham relação com assunto.

Difusão - É um precioso! : Agora que está quase tudo pronto o jornalista precisa divulgar essas informações. Existem várias formas de apresentar os dados ao público, seja por uma história, infográficos, gráficos, reportagens e aplicativos interativos na Web.

Jornalismo de Dados na prática

Para compreender melhor como funciona o trabalho na prática, iremos colocar aqui três projetos jornalísticos importantes que fazem uso de dados.

Monitor da violência Criado em 2018, o “Monitor da Violência” é um projeto do G1 em parceria com o Núcleo de violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Seu objetivo é mapear mensalmente os índices de mortes violentas em cada estado brasileiro, sendo contabilizadas vítimas de crimes violentos letais e intencionais, como: homicídio doloso, latrocínio , lesão corporal seguida de morte. Com esses dados, o monitor produz análise e reportagens voltadas para a área de segurança pública, além de ter um infográfico interativo do mapeamento.

Volt Data Lab É uma agência de jornalismo que nasceu no fim de 2014 voltada para investigação, análise e visualização de dados, com projetos em diversas áreas como política, economia, direitos humanos, mídia e tecnologia. O Volt já produziu levantamentos importantes como o “Atlas da Notícia”, que procura mapear empreendimentos jornalísticos por todo o Brasil. Desenvolveu junto com o Poder360 um projeto que mostra informações sobre todas a candidaturas políticas em eleições desde 1998. Também fez análise de dados para uma reportagem da BBC sobre aumento de apreensões de submetralhadoras artesanais no país nos últimos anos.

Nexo é um jornal digital, lançado em novembro de 2015. Ele tem uma editoria só com gráficos dos mais variados temas. Não existe um texto que acompanhe o assunto, porém eles conseguem criar uma narrativa por meio dos números, o que torna mais fácil a compreensão por parte público.